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8/05/19 às 18h22 - Atualizado em 6/10/22 às 18h57

GDF começa a implementar escolas interculturais bilíngues

Jessica Antunes, da Agência Brasília

 

O Governo do Distrito Federal deu o primeiro passo para implementação de escolas interculturais bilíngues. O projeto começará pelo Centro Educacional Lago Norte (CEDLAN), colégio de ensino médio em tempo integral. Ali, onde mais de 90% dos alunos são do Varjão, Itapoã e Paranoá, o francês fará parte do currículo regular. Isso integra a Bandeira Excelência para Todos, do Educa DF, plano estratégico para a educação na capital. A previsão é que o processo seja concluído gradativamente ao longo de três anos.

 

Governador Ibaneis Rocha assina o projeto de implementação de escolas interculturais bilíngues. Foto: Renato Alves / Agência Brasília

O memorando de entendimento para a implantação da primeira escola intercultural bilíngue da rede pública da capital foi assinado nesta quarta-feira (8), no Palácio do Buriti. O ato contou com a presença do governador Ibaneis Rocha, do secretário de Educação, Rafael Parente, do Secretário de Relações Internacionais do DF, embaixador Pedro Luiz Rodrigues, além do embaixador da França, Michel Miraillet. O projeto faz parte da estratégia de fortalecimento do ensino médio e tem a intenção de incentivar os alunos a permanecerem na escola até o fim do ciclo básico. Assim, eles saem melhor preparados.

 

“É uma alegria assinar esse acordo, ainda mais em um momento em que a educação está tão desvalorizada em virtude do alto índice de desemprego”, afirmou o governador Ibaneis Rocha. O chefe do Executivo espera que bons resultados possam ser expandidos, alcançando todas as 14 coordenações regionais da capital. “Sempre achei que os governos não souberam aproveitar da melhor maneira a presença de tantos organismos internacionais em Brasília.”

 

“Quero dizer o quanto apreciei seu engajamento pessoal nesse projeto. Não é fácil para um governador fazer uma mudança tão diferente do habitual. É necessário decisão e dedicação para assumir essas opções diferentes”, disse o embaixador Michael Miraillet, direcionado ao governador. Para ele, este é o primeiro passo para um estreitamento entre Brasil e França. “Acredito que a Embaixada vai se dedicar tanto que estou confiante de que alunos de Brasília farão fila para disputar lugar nesta escola selecionada”.

Meta de parcerias

Rafael Parente, secretário de Educação, revela que a meta é fechar acordos com dez embaixadas até o fim do ano, para que abranjam todas as regionais. Até o momento, há diálogo com seis organismos. Em um primeiro momento, as escolas em potencial serão identificadas a partir do perfil de ensino médio e com modalidade integral. A seleção, porém, passa pelo crivo da direção e comunidade escolar. Todo o projeto é patrocinado pelas embaixadas. Então não há custos extras para o GDF. “Estamos criando uma metodologia piloto para que possamos ampliar com segurança no ano que vem. A intenção é que o projeto não cause pressões desnecessárias para docentes e discentes.”

 

Espanhol será a língua-alvo no CEM 03 de Taguatinga. Foto: Mary Leal, Ascom/SEEDF

O Centro de Ensino Médio 03 de Taguatinga será a próxima unidade a receber o projeto, com alvo na língua espanhola. O memorando de entendimento com a Embaixada da Espanha está em fase final de redação. A implantação total do projeto, em cada escola que fizer parte, será executada em etapas concluídas três anos após o início. A articulação com as embaixadas para a realização das parcerias teve a participação da Secretaria Extraordinária de Relações Internacionais. O currículo da Secretaria de Educação não é modificado e o inglês continuará obrigatório.

Alunos em vulnerabilidade

Segundo a Secretaria de Educação, a escolha do CEDLAN para se transformar no primeiro colégio bilíngue da capital por meio do projeto não é por acaso. A pasta esclarece que o CEDLAN é uma das unidades que apresenta maiores problemas de abandono, repetência e distorção idade-série, além de baixas notas nas avaliações institucionais. A unidade atende 360 alunos de ensino médio no diurno, que farão parte do projeto, além de outros 94 no noturno e 151 na educação de jovens e adultos (EJA).

 

Ali, quase todos os estudantes vivem em comunidades vulneráveis. São 85% do Varjão e os demais principalmente do Itapoã e do Paranoá. A renda familiar média é inferior a dois salários mínimos e a maioria não recebe auxílio de programas sociais. Em situação de risco social, há realidades de violência familiar, bullying e uso de drogas.

 

Vice-diretora do colégio, Isabella Barbosa Araújo conta que o projeto foi recebido com ânimo pela comunidade escolar. “Quando falamos da proposta, acharam muito legal. Vai ser um diferencial e uma oportunidade para eles que perpetuará pela vida.”

Implementação gradativa

O acordo, assinado agora, é o pontapé inicial para a implementação do novo idioma no colégio (veja calendário abaixo). A previsão é que, em 2021, o francês faça parte das disciplinas em horário regular e no contraturno, compreendendo metade do período letivo diário. Para isso, os professores do CEDLAN passarão por curso de formação realizado pela Aliança Francesa a partir de julho.

 

Professores de francês da rede pública de ensino serão deslocados para ministrarem as aulas específicas. Aos demais serão exigido apenas rudimentos, como prestar cumprimentos ou ver as horas. Gerente da Bandeira Escolas de Excelência e responsável pelo projeto das escolas bilíngues, David Nogueira defende que é preciso envolvimento na nova realidade bilíngue do colégio para que a imersão seja efetiva.

 

 

Aos alunos, o processo também começa em julho, quando eles começarão a frequentar as salas de vivências no início do segundo semestre. Trata-se de espaços que fogem do formalismo das salas de aula tradicionais, com objetos decorativos e sofás no lugar das carteiras. Aulas nesses locais acontecerão no contraturno três vezes por semana, com turmas de, no máximo, 20 estudantes, que começarão a ter contato com o idioma. Em agosto, começará a imersão, em português, na cultura e na história da França, também no contraturno.

 

No primeiro semestre de 2020, acontecerá a primeira oficina de uma disciplina na língua alvo. No segundo semestre, começarão aulas em francês no turno regular. Na segunda metade do ano seguinte, 2021, todos os componentes ministrados no contraturno serão ofertados na língua estrangeira. Ao mesmo tempo, parte das disciplinas do turno regular adotará a língua.

 

“A aprendizagem de outros idiomas influencia vários outros aspectos. As pessoas bilíngues conseguem aprender mais facilmente qualquer outra coisa, as conexões cerebrais são mais complexas. A escola também ficará muito mais interessante para os alunos do ensino médio”, diz o titular da Secretaria de Educação.

Calendário de implantação

Período 

Etapa
08/05/2019  – Assinatura do Memorando de entendimento.
31/06/2019  – Assinatura do Termo de Cooperação.
29/07/2019  – Implementação da sala de vivência.

– Início da formação dos professores.

5/08/2019  Início do projeto sobre a cultura e a história da França, com aulas em português.
1º sem 2020  – Seguimento da formação dos professores.

– Início da primeira oficina de componente curricular, em francês, no contraturno.

2º sem 2020  – Seguimento da formação dos professores.

– Início da segunda oficina de componente curricular, em francês, no contraturno.

1º sem 2021  – Seguimento da formação dos professores.

– Introdução de um componente curricular, em francês, no turno regular.

2º sem 2021  – Todos os componentes curriculares do contraturno ofertados em francês, para alunos do 2º e 3º anos.

– Alguns componentes curriculares do turno regular ofertados em francês.

 

 

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